sábado, 6 de outubro de 2012

Manual de sobrevivência pós-troika: Como lidar com o dinheiro? Como dizer não ao consumismo?


Existem três habilidades fundamentais que, na minha opinião, todos nós deveríamos sair da escola dominando: alimentação e fitness, primeiros socorros e educação financeira.


Observem que a precária instrução nestas áreas (somada à negligência e desleixo naturais de cada um), nos leva a experimentar situações extremas e em alguns casos traumáticas, que poderiam ser evitadas com um pouco de conhecimento, intervenção e atitude.
Lidar com o corpo, com situações de emergência e, principalmente com o dinheiro, tem feito parte das nossas vidas cada vez mais precocemente, demandando dos jovens e adolescentes a capacidade de tomar decisões sérias e importantes, com sabedoria, rapidez e, o mais crítico - postura.
Porque a nossa relação com o dinheiro se constrói a partir de posturas previamente pensadas e analisadas, e não de reações aleatórias baseadas em princípios mais aleatórios ainda; bastante característicos de uma sociedade que despreza a urgência em se aprender a lidar com o dinheiro e seus diversos desdobramentos.
A percentagem de jovens (até 25 anos) endividados com cartões de crédito, cheque especial e empréstimos, cresce assustadoramente em Portugal e endossa ainda mais a necessidade de se aprender a lidar com o dinheiro, da mesma maneira que aprendemos as regras de circulação e leis de trânsito, antes de nos agarrarmos ao volante do carro e sairmos por aí conduzindo como os donos da cidade.
O fato de trabalharmos e ganharmos dinheiro, não implica na automática conclusão de que sabemos como lidar com ele. Os cursos/livros/artigos sobre Educação Financeira estão para todo lado, disponíveis em salas de aula presenciais e virtuais, conforme a disponibilidade e interesse de cada um. (Inclusive, uma excelente maneira de dar início a esta pauta, é lendo este artigo escrito pelo consultor Jessé Diniz, em que você poderá identificar o seu perfil financeiro e intervir para trabalhar melhor os seus ganhos e receitas.)
Se você é casado (a), eu recomendo a leitura de um livro bastante rico e didático neste tema, que se chama“Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”. Eu e meumarido lemos quando ainda namorávamos, e a partir dele extraímos lições valiosas para a vida toda!
Agora, eu não poderia deixar de dividir com vocês alguns princípios que eu pessoalmente uso (não são princípios matemáticos/financeiros, e sim comportamentais) para que o dinheiro esteja a meu serviço,  e não eu a serviço dele.
Em primeiro lugar, é necessário que estabeleçamos controle sobre os nossos atos. Para quem não tem domínio próprio, o dinheiro se configura apenas como mais um dos diversos problemas oriundos da falta de disciplina, e da incapacidade de dizer “não” para si próprio.
Não existe isto de “eu não me controlo”“é mais forte do que eu”. Estes são discursos fofinhos, socialmente aceitos pela difusão de propagandas/novelas fofinhas, que retratam o comportamento do consumo compulsivo feminino, como algo fofinho e legítimo.#sóquenão
A mulher quando compra, salvas exceções, goza de pleno juízo e sabe exatamente o que está fazendo. Desculpem-me a franqueza e até mesmo a dureza… mas chegar ao grupo de amigos e gabar por ter comprado sem poder comprar, por ter dividido de 12x no cartão, e ainda dizer a máxima de que foi “uma pechincha” e um super negócio …. blá,blá, desculpem, mas não é bonito e nem motivo de orgulho.
Se queremos ter um relacionamento diferente com o dinheiro, devemos reprovar estes comportamentos e estar atentas ao segundo princípio que é: não pense, faça. 
Podemos encontrar mil motivos para comprar algo, e convencermo-nos de todos eles. Mas se apenas sairmos de casa com a postura de não comprar nada, aí nem nos atrevemos a pensar nestes motivos (por mais plausíveis que possam ser) para comprar determinado produto – que pode ser um par de sapatos da Schutz, um lápis, ou um gelado, até.
Seria como assumir a forma de um robô que só sabe fazer aquilo que foi programado pra fazer. Saia de casa programada para não comprar, e volte sem os famosos saquinhos de griffe, caixinhas e bolsinhas.
O terceiro princípio é se convencer pela simplicidade dos comportamentos. Não tem dinheiro, não compre. Ponto. Se tem dinheiro, mas não precisa comprar, não compre. Ponto. Se tem dinheiro e precisa comprar, compre o mais barato (sempre que possível). Se tem dinheiro, precisa comprar e vai comprar o mais barato, pague à vista.
E sempre que possível, evite o ato de comprar e de consumir… E ensine isto aos seus filhos: que sair de casa não significa ter que comprar alguma coisa. E incorpore este princípio como um estilo de vida, como uma convicção, uma certeza de que já temos muito mais do que realmente precisamos, e que passar dias, semanas e meses sem comprar é extremamente possível, natural e normal.
Na maioria dos casos, comprar é hábito/mania e não necessidade. Às vezes, a pessoa recebe um aumento de salário, e antes mesmo de o dinheiro cair na conta, ela já fez compromisso com aquele aumento pelos próximos dois anos. Sendo assim, ela sempre tem uma conta/dívida para pagar, e segue com aquela sensação de o que dinheiro dela não dá pra nada, que ela ganha muito pouco, etc, etc…
Elimine os cartões de loja, elimine as prestações… Elimine a vergonha de usar roupas e sapatos repetidos, de dizer que não poderá ir àquele restaurante, que não poderá renovar o armário inteiro só porque a estação mudou… Elimine estas amarras da mente, do ter, do parecer que tem, do status, do apreciar quem tem.
Olhe pra sua casa e comece a se perguntar: pra que 10 xampus diferentes no banheiro? Pra que 5 pentes para o cabelo, se no final das contas, você só usa um? Pra que tanto, se o que a gente precisa é tão pouco? Não podemos esperar algo acabar, ou estragar, avariar, para só então comprarmos outro?
Se quer experimentar, peça uma amostra grátis! Se não tiverem, não se dê ao luxo de comprar só para experimentar… seu dinheiro não é relva, que cresce na boa. Seu dinheiro é muito suado pra ir embora em coisinhas, em coisinhas fofas e caprichos! Reserve o seu dinheiro para os hobbies, para as viagens, para os sonhos, e não para a escravidão.
Busque o contentamento e liberte-se da necessidade de mostrar para os outros que você também tem, ou que também pode ter. Não alimente este monstro devorador que só nos quer escravizar, e nos ver a trabalhar para pagar contas e dívidas, acumulando coisas de que não precisamos, numa recompensa com o ato de comprar e de consumir…
Seja simples, minimalista… seja livre. Eu alinho já!